Artigo do Setor de Apoio ao Estudante: Dia do Índio?

19/04/2021 16:45

Ficou marcado no Brasil, como parte das datas de comemoração nacional, o dia 19 de abril como “dia do índio”. Ao mesmo tempo, há anos se luta no país pela desconstrução de estereótipos como este que romantizam, reproduzem o preconceito colonial e não respeitam a diversidade e luta dos mais de 300 povos originários nos diferentes territórios.

Um pouco desta luta é possível acompanhar pela Mobilização Nacional pelo Abril Indígena e que em 2021 será on-line por conta do contexto da pandemia. Saiba mais aqui.

Sendo a UFSC um dos muitos territórios demarcados pela presença dos diferentes povos indígenas deste país, é fundamental fazer coro sobre a necessidade de conhecer as realidades destas populações e não repetir no meio acadêmico ações problemáticas que são históricas.

Em entrevista à BBC News em 2019, Daniel Munduruku explicou que o uso da palavra índio é uma destas questões que precisam ser alteradas pois não é mero detalhe, mas indica que a linguagem reflete questões sociais. O doutor em educação pela Universidade de São Paulo e pós-doutor em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos, considera que a palavra “índio” remonta o imaginário social de que o indígena é selvagem e um ser do passado – e ao mesmo tempo esconde toda a diversidade dessa população. Saiba mais aqui 

Valter dos Santos – Katanh (na sua língua materna Kaingang) é estudante de Medicina no Campus Araranguá da UFSC e também explica que Hoje é um dia de reflexão, sou indígena, originário desta terra, deste solo, e “ser índio” é algo que soa ruim ao meus ouvidos… prefiro ser chamado de indígena. Vamos usar este momento para pensar que é o “dia da consciência indígena” como nos ensina Daniel Munduruku, tirando o estereótipo eurocêntrico colocado pelas escolas para toda população brasileira. É momento de pensar em novos rumos vindo de uma reeducação e entender como as culturas são diferentes mas nativas desta Terra e não ser apenas um dia de pintura  e cocares, mas sim lutar por raízes e ações políticas que tornem realidade o sonho e os direitos das crianças indígenas”

A presença de estudantes indígenas na UFSC é cada vez maior, especialmente a partir de 2008 com as Políticas de Ação Afirmativa. O acesso à universidade brasileira não se refere a um desejo individual de carreira profissional, somente, mas também tem sido uma oportunidade de acesso a direitos sociais de forma coletiva. Dentre os materiais produzidos neste contexto, recentemente o Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN), lançou um caderno temático sobre o tema, fundamental para todos nós que trabalhamos na universidade. Acesse aqui

Ainda há muitas dificuldades para estes estudantes permanecerem na universidade com saúde e êxito, no entanto, há a necessidade de seguir trabalhando por melhorias e a cada dia rever práticas cotidianas que tornam esta permanência ainda mais difícil por não romper com a lógica colonial. Que a UFSC seja sempre uma universidade que acolhe, assiste, acompanha, aprende e se descoloniza.

Texto: Setor de Apoio ao Estudante – UFSC – Araranguá

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