Um sonho sonhado junto: UFSC dá primeiro passo oficial para consolidar curso de medicina em Araranguá

02/02/2018 09:16

As falas feitas durante a solenidade de entrega da Ordem de Serviço 334/2017 para a construção da estrutura do prédio do Centro de Ciências, Tecnologias e Saúde (CTS03) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) de Araranguá, realizada na manhã desta quarta-feira, 31 de janeiro, foram carregadas de emoção.

O auditório do campus foi lotado pela comunidade local e acadêmica, pela sociedade civil organizada, por autoridades políticas e empresariais da região. Neste dia, a palavra sonho foi repetida por todos que usaram do microfone e a expressão concretização de uma utopia foi repetida em conversas e na feição de quem acompanhou o momento histórico para a cidade.

A obra chega a Araranguá repleta de significados: vai abrigar o primeiro curso de Medicina gratuito da região, ministrado por uma das melhores universidades do país, como também vai aperfeiçoar o Sistema Único de Saúde (SUS) e, com isso, ofertar um serviço de qualidade e eficiência à população.

A implantação da UFSC em Araranguá começou em 2009, porém a demanda da comunidade pelo curso de Medicina antecede a vinda da universidade “Estamos sonhando o sonho do sonhador. Essa é a resposta para o anseio regional, construído a quatro mãos, em um curso que estará vinculado à rede pública de saúde”, disse o diretor-geral da UFSC Araranguá, Eugênio Simão.

Para o reitor pro tempore da UFSC, Ubaldo Cesar Balthazar, a expansão fez com que a universidade saísse da capital para contribuir com o desenvolvimento de regiões localizadas no interior do estado. “O processo nessas quatro cidades (Araranguá, Blumenau, Curitibanos e Joinville – http://estrutura.ufsc.br/campi/) é irreversível. Vai trazer desenvolvimento econômico e social para as regiões. Araranguá vai dar um salto, se transformar. Quem estiver fora da cidade e retornar daqui 10 anos vai levar um susto, como eu levei ao retornar na década de 1990 para Florianópolis após 4,5 anos em doutorado fora do país”, salienta Ubaldo.

Na linha do desenvolvimento local, o presidente da Associação Empresarial de Araranguá e do Extremo Sul Catarinense (Aciva), Norbeto Rizzotto, recorda a luta da comunidade pela vinda do curso de medicina. “Era um sonho que começou em 2004 com o então reitor da UFSC Lúcio Botelho. Hoje, as 37 entidades vivenciam esse momento gratificante que trará ganhos para a saúde e a educação da região”, frisa ele.

Uma cápsula do tempo foi enterrada próximo ao portão de acesso ao novo prédio do CTS da UFSC Araranguá. O reitor Ubaldo colocou na cápsula uma edição de um jornal do dia, a moeda corrente e discursos do dia 31 de janeiro de 2018. Ela deve ser aberta daqui 30 anos.

 

A estrutura do novo curso

Com 1.500 estudantes, 93 docentes efetivos e 45 técnico-administrativos, o campus vai abrigar no bairro Mato Alto três prédios numa área total de 6.400,00 m². O investimento de R$ 3.290.343,80 milhões é para a conclusão da primeira etapa, que envolve a fundação e a estrutura pré-moldada dos prédios. O CTS03 ficará localizado em terreno da UFSC, já cercado e localizado em frente à sede Administrativa, onde são realizados os cursos de pós-graduação atualmente.

O valor foi destinado à UFSC por meio de uma emenda parlamentar do deputado federal Jorge Boeira. Presente na solenidade, destacou a educação como um dos maiores problemas sociais. “Em 1891 Lopes Trovão discursava sobre os problemas em torno da educação e, lendo o seu discurso, percebo que não tivemos alteração sobre a importância que tem a educação no Brasil”. O deputado anunciou a liberação de mais uma emenda parlamentar para a conclusão das obras do CTS03, prevista para ocorrer em 2021.

A escolha pela implantação do curso de medicina em Araranguá, o sexto a ser ofertado pela UFSC na cidade, seguiu uma série de critérios estabelecidos pelo Programa Mais Médicos. Conforme Isabela Back, coordenadora do grupo de implantação do curso de medicina da UFSC Araranguá, o objetivo da nova proposta curricular do curso é promover uma maior integração com a comunidade e qualificar médicos melhores, voltados à Atenção Básica de Saúde. “O modelo de escola ativa, de cunho construtivista, visa formar um profissional humanista que tenha o conhecimento do todo. O objetivo, por exemplo, é qualificar um novo médico, que conseguirá clinicar de maneira eficiente e eficaz em locais remotos, sem acesso à internet, nem equipe ou laboratórios”, diz ela.

As novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) de medicina, aprovadas em 2014 pelo MEC, têm o propósito de promover uma formação médica mais geral, humanista e crítica com capacidade para atuar nos diferentes níveis de atenção à saúde com responsabilidade social e compromisso com a defesa da cidadania, dignidade humana e saúde integral da população.

Paulo Marcondes Carvalho Júnior, coordenador eleito do curso de medicina, atua há 20 anos neste modelo médico. Um dos 20 docentes concursados para lecionar no curso, ele relata que há uma diferença entre a atenção à saúde aplicada em São Paulo com a realizada na região. “Ela precisa existir e funcionar, porém temos poucos médicos. Por isso, o curso vai qualificar médicos com um perfil mais participativo com os olhos voltados à necessidade da comunidade”, explica ele.

Previsto para ocorrer ainda no primeiro semestre de 2018, o Vestibular para o curso de medicina prevê bonificação de 20% na nota final dos estudantes das escolas, públicas ou não, das microrregiões da área de abrangência de Araranguá. Conforme simulações da Coperve, isso deve resultar na aprovação de um percentual significativo de candidatos da região. “Esse critério, atrelado à residência médica realizada na região, contribuirão para que o novo médico fixe residência e desenvolva a medicina nesta região. Além disso, esse modelo de ensino/aprendizagem permite que o profissional conheça a realidade da comunidade que ele vai atender”.

Para o reitor da UFSC essa nova proposta de ensino exige uma mudança de pensamento e cultura dos docentes, pois não existem aulas previstas na matriz curricular. “Não é uma proposta fácil, mas os nossos professores estão se preparando para esse desafio. O papel do docente passa a ser o de orientador e, na minha avaliação, é o método do futuro, é uma questão de tempo”.

Segundo o Programa Mais Médicos, 30% da carga horária de graduação e residência será desenvolvida na Atenção Básica e em Serviços de Urgência e Emergência do SUS com vistas aos profissionais estarem preparados para atender e resolver até 80% dos problemas de saúde que levam as pessoas a buscar os serviços de saúde. “E para que tenham condições de tratar os usuários de forma acolhedora, com humanização, vínculo e compreensão do contexto de cada pessoa, família e comunidade. A reformulação do currículo de medicina moderniza a formação médica, e faz com que ela seja centrada no estudante, extensão e assistência, articula teoria e prática e objetiva a formação de um bom e preparado médico generalista.”

Conheça mais acessando os endereços

http://maismedicos.gov.br/conheca-programa

http://maismedicos.gov.br/o-novo-curriculo

Nicole Trevisol / Jornalista Agecom / UFSC

Henrique Almeida / Agecom / UFSC

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